quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Voluntariado


   A empresa onde trabalho tem várias iniciativas de ajuda aos mais necessitados, entre elas o Day of Caring em que os empregados podem escolher fazer voluntariado numa instituição da zona.  Os empregados contribuem com o seu trabalho e a empresa disponibiliza-os durante um dia sem detrimento salarial,  claro está. 
   Escolhi a Streetlevel Mission da Salvation Army que é o equivalente à sopa dos pobres cá do sítio.  De manhã,  depois de um breve briefing, carregámos caixotes de fruta e legumes (doações de uma cadeia de supermercados) escada acima, escada abaixo.  Na cozinha lavámos,  descascámos e cortámo-los de forma a ajudar na preparação das refeições.  
   No dia-a-dia há um cozinheiro e uma coordenadora e o resto são voluntários que oferecem o seu tempo e ajudam a cozinhar as refeições. Não há portanto ninguém permanente que faça este trabalho.
   A cozinha está a ser remodelada e em breve será tudo no mesmo piso o que vai facilitar o transporte dos alimentos até à cozinha. As refeições são planeadas conforme o que houver fresco no dia e com base no que foi recolhido nos supermercados na noite anterior. Uma gestão um pouco familiar e de reutilização. Por exemplo, as pêras abacates estavam um pouco maduras por isso utilizámo-las para fazer guacamole.
   A cozinha actual não tem sequer máquina de lavar a loiça por isso tudo é lavado à mão. É de louvar quem trabalha nestes locais pela sua perseverança, pela sua entrega e pelo seu positivismo.

   Ao longo da manhã foram chegando alguns utentes. Sentados na sala de refeições alguns conversavam entre si, outros mantinham-se à parte, sós, de olhar vazio. Quando chegou a hora de servir o almoço rapidamente se levantaram e formaram uma fila ao balcão e nós atarefadamente fomos servindo prato, atrás de prato. Quando a azáfama terminou pude observar a sala de refeições: a forma como aqueles que tem pouco saboreavam a comida simples que lhes tínhamos proporcionado; o modo ordeiro e rotineiro com que levantaram os pratos e talheres e os colocaram no lugar designado para tal; o carinho com que se despediam da coordenadora com um até amanhã.
   Foi uma experiência muito boa mas que me tirou, sem qualquer réstia de dúvida, da minha zona de conforto. O aperto no peito e o nó no estômago estiveram sempre lá apesar da alegria de poder fazer algo para ajudar. Impressionaram-me os mais idosos, em especial um senhor que conversava animadamente com alguém que não estava lá para o resto de nós. Impressionou-me também uma jovem mulher com nódoas negras na face e no pescoço que arrastava atrás de si uma pequena mala de viagem.

   No final do dia estava cansada, o trabalho tinha sido físico, o desgaste emocional. Vim para casa grata por tudo aquilo que tenho, tudo aquilo com que a vida me brindou, tudo aquilo que aprendi, cresci e conquistei. No pensamento e na lembrança trouxe também aqueles que pelas mais diversas circunstâncias estão a viver momentos difíceis mas que podem encontrar ali muito mais do que um prato de comida, um espaço seguro, que lhes oferece algum conforto, humanidade e até, quem sabe, esperança.

2 comentários:

  1. Uma experiência marcante. É bom estarmos envolvidos com o que se passa à nossa volta - mantém-nos mais "acordados", digamos. Obrigada por partilhares esta tua vivência.

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    1. É mesmo verdade! Por vezes andamos tão ocupados com a nossa "vidinha" que nos esquecemos de olhar em nosso redor.

      Beijinhos

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