Relativamente à crise dos refugiados sírios li muitas barbaridades e assustei-me com os sentimentos expressos por muitos perante o sofrimento alheio. Claro que é uma questão complexa, claro que há interesses e politiquices pelo meio, mas para mim, independentemente da raça, da cor da pele, da religião ou ideologia, vejo acima de tudo pessoas de carne e osso que estão a fugir de uma guerra. Hoje temos a sorte de nos sentirmos seguros nas nossas casas, de poder dormir num colchão ortopédico, taparmo-nos com edredão de penas, e dormir o "sono dos justos" mas amanhã podemos ser a nós a ver tudo o que nos é familiar a ser destruído, a ver a nossa vizinhança a ser bombardeada e ficar sem nada senão o nosso instinto de sobreviver.
Penso que muitos perderam a noção da fragilidade da vida, acreditam que desgraças só acontecem aos outros e permitem que o sofrimento e o desespero dos outros não lhes toque. Assusta-me como as pessoas conseguem fechar os olhos e o coração a quem precisa de apoio por medo, egoísmo, ou diferença de opinião.
Parece-me que cada vez mais as pessoas vivem centradas nos seus umbigos. O avanço da social media tem tido também muita influência neste narcisismo, na facilidade com que alguém se esconde atrás de ecrã e debita opiniões sem pensar duas vezes e até com que cria uma vida fabricada.
No seguimento destas reflexões deu-se o lançamento do novo iPhone 6. Ora eu trabalho bem pertinho da loja da Apple e nem queria acreditar quando dias antes havia tendas montadas no passeio de malta que decidiu acampar para estarem entre os primeiros a comprarem o novo modelo. Tenho que acrescentar que estava frio e chuvoso.
Que raio leva uma pessoa a acampar para comprar um telemóvel?! Ora, o telefone não vai esgotar e pode ser adquirido no dia seguinte ou na semana seguinte sem qualquer alteração, a Apple não estava a fazer nenhum tipo de desconto portanto o preço é precisamente o mesmo independentemente do dia da compra, não havia nenhum modelo especial ou comemorativo do lançamento. E pelo que me percebi, nem sequer estavam a dar rebuçados, lol
Na manhã do lançamento, a multidão era tal que havia seguranças a garantir que a entrada para os edifícios de escritórios se mantinha acessível. Enquanto naveguei entre os chapéus de chuva abertos, para aceder ao meu local de trabalho, reflecti em como me são estranhas as prioridades da nossa sociedade actual...
Sem dúvida :(
ResponderEliminarCada vez me sinto mais "deslocada", choca-me a forma como 1 telémovel (ou uma outra coisa qualquer) toma lugar às pessoas. Chocam-me os comentários que tenho lido a propósito da crise na Síria. Deixa-me muito triste e chocada! Beijinhos com saudade
ResponderEliminarÉ de facto triste :-( O que me faz continuar a acreditar que o mundo pode ser um lugar melhor são pessoas como tu, que se indignam, que fazem com que os outros à sua volta se sintam bem, cujos valores vão muito para além do próprio umbigo. Beijinhos grandes :-)
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EliminarVou ser um bocado básica no comentario, mas é que subscrevo em género número e grau tudo o que disseste. As prioridades estao todas trocadas e as pessoas substituem afectos por bens materiais que os possam fazer sentir orgulhosos de quem são. E isso entristece-me e assusta-me.
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