Não costumo escrever acerca das notícias em Portugal mas vou acompanhando o que por lá se vai passando. O facto de viver fora há seis anos não faz com que me preocupe menos ou não me importe com que o estado do país. Não é pelo facto das medidas de austeridade não me afectarem pessoalmente que deixo de ficar indignada quando vejo um país inteiro condenado a um presente e um futuro negro.
E não é só porque tenho família e amigos que são afectados com a crise e as medidas governamentais. É principalmente porque sou portuguesa e tenho orgulho das minhas raízes! É porque reconheço o nosso potencial, a nossa garra e sinto-os a irem pelo cano abaixo e isso revolta-me.
Quando decidi emigrar, ainda a "crise" morava longe, embora soubéssemos que ela não estaria longe. Não estava desempregada, não tinha dívidas ou contas em atraso, não estava desesperada ou com a corda ao pescoço. Saí de Portugal pois quis conhecer novas culturas e uma nova ética de trabalho. Quis alargar horizontes e experimentar novos estilos de vida. (E não podia estar mais feliz com a minha decisão...)
Contudo houve também um factor de desilusão: os
boys, os tachos, as cunhas, o viver de aparências, o deixa andar, o requerimento A para obter o formulário B que dá direito ao papel C, o chico-espertismo, sempre foram coisas que causaram urticária!
Tive pena de não ter podido sair à rua em protesto no passado Sábado e juntar-me aos milhares de portugueses insatisfeitos com o estado do país. Fiquei contudo orgulhosa por tantos terem saído à rua e não se terem limitado a ficarem em casa a reclamar com os seus botões. Fiquei orgulhosa por tudo ter corrido pacificamente. Fiquei orgulhosa por termos demonstrado que nos sabemos unir e lutar por um futuro melhor...
Hoje a Andorinha falava como o regresso a Amsterdão foi difícil desta vez e como chegava a sentir que estava a abandonar o barco antes de ele se afundar. Estes pensamentos já me visitaram vezes sem conta mas sei que mesmo que eu quisesse voltar (que não quero!) tal não me seria "permitido". Não há perspectivas de emprego, com 35 anos já sou velha para procurar trabalho em Portugal, e a qualidade de vida a que me habituei não seria possível ter em Lisboa.
Estou fora por opção, não sinto que tenha sido forçada a isso. Não regresso por opção, pois ainda há um mundo a descobrir à minha espera. Mas serei sempre portuguesa, para o bem e para o mal, e irei continuar a ter esperança que o povo da revolução dos cravos tenha força para se impor, se reerguer e mandar os senhores da Troika, do FMI e do governo para um sítio feio, sujo e recôndito!