quinta-feira, 29 de outubro de 2015
sábado, 24 de outubro de 2015
Insólitos
Já aqui referi algumas vezes como tenho alguma tendência para me deparar ou fazer parte de situações insólitas. Esta semana fui novamente protagonista de mais um momento "isto, só a mim!" ;-)
Tenho andado em consultas no quiropracta pois tenho um disco inflamado na zona lombar que tem causado bastante dores nas costas (fruto da PDI, pois então!). Saí do trabalho mais cedo para ir à consulta e embora o céu estivesse cinzento não me ocorreu trazer comigo o chapéu de chuva reserva que mantenho no escritório. Já no comboio o maquinista avisa que uma tempestade se aproxima e aconselha cuidado a subir e a descer escadas nas estações pois o piso estaria decerto escorregadio.
Para com os meus botões saiu-me um "Oh oh!"
Cheguei à minha estação e chovia que se fartava. Muita água, com muita força e algum vento. Esperei que abrandasse mas não havia sinais da tempestade amainar. Ao olhar para o relógio, tive de tomar uma decisão: ou continuava à espera e perdia a consulta ou metia-me a caminho (esperavam-me uns 15 minutos de caminhada) e chegava a tempo mas encharcada até aos ossos... Pois que corajosamente (ou loucamente!) me pus a caminho!
Quando cheguei ao consultório estava mais molhada do que se tivesse saído do banho vestida ;-) As calças e a t-shirt estavam coladas ao corpo, os ténis e as meias estavam ensopados e o casaquinho de malha que trazia aberto sobre a cabeça pingava.
A quiropracta deu-me uma toalha turca quentinha, acabada de sair do secador da roupa, para me limpar e eis que estava como nova pronta para o meu tratamento. O único problema era como ir para casa depois da consulta. Vestir a roupa que trazia era impensável, pois estava encharcada, pelo que a minha única escolha foi pedir emprestada a camisa (tipo hospital) que vestimos para o tratamento!
Depois do tratamento, saí então de camisa de hospital (sim, daquelas que abrem atrás!) vestida, casaco de malha (encharcado) atado à cintura para tapar o rabo e descalça (meter os pés dentro dos ténis seria como andar dentro de poças de água). A viagem até a casa é curta e 5 minutos depois estava a tocar à campainha. O Homer abriu a porta, estranhando eu não ter utilizado a chave, e quando deu de caras comigo apenas abanou a cabeça com aquele ar "o que foi desta vez?" e deu-me um beijinho.
Quem se tenha cruzado comigo terá suspeitado que eu teria fugido do hospital (muito provavelmente psiquiátrico!), lol
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
Voluntariado
A empresa onde trabalho tem várias iniciativas de ajuda aos mais necessitados, entre elas o Day of Caring em que os empregados podem escolher fazer voluntariado numa instituição da zona. Os empregados contribuem com o seu trabalho e a empresa disponibiliza-os durante um dia sem detrimento salarial, claro está.
Escolhi a Streetlevel Mission da Salvation Army que é o equivalente à sopa dos pobres cá do sítio. De manhã, depois de um breve briefing, carregámos caixotes de fruta e legumes (doações de uma cadeia de supermercados) escada acima, escada abaixo. Na cozinha lavámos, descascámos e cortámo-los de forma a ajudar na preparação das refeições.
No dia-a-dia há um cozinheiro e uma coordenadora e o resto são voluntários que oferecem o seu tempo e ajudam a cozinhar as refeições. Não há portanto ninguém permanente que faça este trabalho.
A cozinha está a ser remodelada e em breve será tudo no mesmo piso o que vai facilitar o transporte dos alimentos até à cozinha. As refeições são planeadas conforme o que houver fresco no dia e com base no que foi recolhido nos supermercados na noite anterior. Uma gestão um pouco familiar e de reutilização. Por exemplo, as pêras abacates estavam um pouco maduras por isso utilizámo-las para fazer guacamole.
A cozinha actual não tem sequer máquina de lavar a loiça por isso tudo é lavado à mão. É de louvar quem trabalha nestes locais pela sua perseverança, pela sua entrega e pelo seu positivismo.
Ao longo da manhã foram chegando alguns utentes. Sentados na sala de refeições alguns conversavam entre si, outros mantinham-se à parte, sós, de olhar vazio. Quando chegou a hora de servir o almoço rapidamente se levantaram e formaram uma fila ao balcão e nós atarefadamente fomos servindo prato, atrás de prato. Quando a azáfama terminou pude observar a sala de refeições: a forma como aqueles que tem pouco saboreavam a comida simples que lhes tínhamos proporcionado; o modo ordeiro e rotineiro com que levantaram os pratos e talheres e os colocaram no lugar designado para tal; o carinho com que se despediam da coordenadora com um até amanhã.
Foi uma experiência muito boa mas que me tirou, sem qualquer réstia de dúvida, da minha zona de conforto. O aperto no peito e o nó no estômago estiveram sempre lá apesar da alegria de poder fazer algo para ajudar. Impressionaram-me os mais idosos, em especial um senhor que conversava animadamente com alguém que não estava lá para o resto de nós. Impressionou-me também uma jovem mulher com nódoas negras na face e no pescoço que arrastava atrás de si uma pequena mala de viagem.
No final do dia estava cansada, o trabalho tinha sido físico, o desgaste emocional. Vim para casa grata por tudo aquilo que tenho, tudo aquilo com que a vida me brindou, tudo aquilo que aprendi, cresci e conquistei. No pensamento e na lembrança trouxe também aqueles que pelas mais diversas circunstâncias estão a viver momentos difíceis mas que podem encontrar ali muito mais do que um prato de comida, um espaço seguro, que lhes oferece algum conforto, humanidade e até, quem sabe, esperança.
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Confidências,
E a Terra continua a girar...
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