A neve caía sem parar enquanto o vento soprava fortemente. Um homem sozinho, bem agasalhado, caminhava pelas ruas da cidade. As lojas iam fechando as suas portas aos poucos, mais cedo do que era habitual. Mas ainda conseguiu encontrar a padaria aberta...
Chegou a casa. O silêncio e a escuridão do apartamento agrediram-no como um murro no estômago. Caminhou para a cozinha, poisou o saco do pão, despiu o sobretudo, o cachecol, o gorro, as luvas e pegou no telefone. Ligou para casa.
Lá longe, no seu país, na sua terra natal, na sua casa, todos estavam reunidos para passar a consoada. Ouviu o riso das crianças e as palavras de ordem da avó. A voz da sua mulher soava triste pelo telefone: "Só faltas cá tu hoje... Tenho tantas saudades...". As lágrimas ameaçavam soltarem-se mas tentou disfarçar: "Em breve... Já falta pouco para estarmos todos juntos! Amo-te..."
Pousou o auscultador com as mãos já trémulas. Não pode mais conter os soluços. Ali, sentado na cadeira da cozinha, chorou. Chorou pela solidão, pelas dificuldades da vida que o obrigavam a estar longe da família, pela infância roubada pelo trabalho, por todos os natáis que só lhe lembravam os seus fracassos.
Preparou um café com leite e duas carcaças com manteiga. Tinha a sorte de ter o frigorífico cheio, o congelador também. Mas hoje apenas um pão com manteiga conseguiria aconchegar a sua angústia. Juntou um copo de uísque ao café e desejou que o sono não tardasse muito...
Foto: Limburg, Holanda - Janeiro de 2009