sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Ah, e tal... eu é mais livros!

   Não tenho escrito por aqui, não porque não se tenha passado nada mas porque tenho andado muito introspectiva. Contudo, tenho lido bastante e até tenho saído frequentemente, especialmente para dançar ;-)
   Mas hoje venho aqui falar dos livros que tenho lido,  alguns muito bons!

  
   O primeiro é o "All The Light We Cannot See" do Anthony Doerr. Confesso que me chamou a atenção na prateleira da livraria por ter ganho o Prémio Pulitzer. Trouxe-lo para casa e assim que o comecei a ler não mais parei. Quando o acabei senti um vazio... A estória é triste e cruel mas ao mesmo tempo tão, mas tão, bonita pela forma como nos é contada: duas crianças que crescem do lado oposto da guerra, que são forçadas a crescer rapidamente perante um mundo em ruínas,  a perda da sua inocência e ao mesmo tempo a sua luta pela salvação de uma réstia de humanindade.
   *Só vi o vídeo do autor (no link em cima) depois de ter lido o livro e fiquei feliz por ter sido totalmente surpreendida pela estória. Aviso desde já que o vídeo revela um pouco demais, para o meu gosto, para quem quer ler o livro.

   Segue-se o mais novo da Isabel Allende, "The Japanese Lover". Uma estória de amor com encontros e desencontros numa dinâmica muito característica de Isabel Allende. As falhas humanas e o inevitável sofrimento fazem sempre parte das suas narrativas  pois não são dissociaveis da vida em si. As personagens são complexas e ao longo do livro vamos descobrindo as suas diferentes facetas e as múltiplas camadas de que são compostas.

   O regresso de Lisbeth Salander fez com que comprasse o novo livro da série Millennium com muita curiosidade: The Girl in the Spider's Web. É certo que li os três livros anteriores há alguns anos mas a verdade é que não encontrei um tom ou registo diferente neste livro. Isto para mim significa que encontraram o ghost writer certo para terminar o trabalho começado por Stieg Larsson. Mais uma vez, a acção nos capta a atenção, o suspense nos mantém presos à página e o desenrolar da estória nos desperta a curiosidade até ao final. 

  Sabia que a Kate Moss não haveria de desiludir e por isso pensei que o "The Winter Ghosts" seria uma boa escolha. De facto, não me enganei. É uma bonita estória onde o mundo espritual e o físico se entrelaçam e onde o passado e o presente se misturam num mesmo espaço e tempo. É um livro sobre sarar o tipo de feridas tão profundas que nos obrigam a reinventarmo-nos.

   Nem de propósito, tinha acabado de ler o "Number Zero" do Umberto Eco quando soube da notícia da sua morte. Não conheço muito da sua obra para além de "O Nome da Rosa" e confesso que este livro não me preencheu. O contexto e a teoria da conspiração que lhe dá vida são interessantes mas senti que a partir de um certo ponto foi despachado. Soube-me a pouco...

   Com as vistas que vieram de Portugal pelo Natal vieram 3 livros em português. Tão bom! O primeiro era pequeno mas muito intenso, "Morreste-me" de José Luís Peixoto. É uma pequena prosa, muito bonita e extrememente pessoal, dirijida ao seu pai. Cada um terá a sua própria interpretação mas eu achei de uma tremenda coragem a partilha.



   E claro, vieram os dois últimos do José Rodrigues dos Santos. "A Chave de Salomão" já marchou e  'As Flores de Lotus" não deve tardar muito... Estou a ser poupadinha para poder saborear os livros na minha língua materna. Embora, leia perfeitamente em inglês, e goste!, é muito bom ler sobre as nossas referências culturais. É impagável ler um relato em que o personagem estaciona o carro perto da Praça de Espanha e ser inundada de memórias daquela zona perto da minha faculdade.
   Como em todos os livros do José Rodrigues do Santos aprendi imenso. Desta feita, acerca de fisica quântica! Mas confesso que estou cansada do protagonista, Tomás de Noronha, e das suas inacreditáveis aventuras. A fórmula funcionou bem nos primeiros livros mas para mim já perdeu o encanto. Os diálogos em que ele explica conceitos tão complexos como as experiências para encontrar o bosão de Higgs à bond girl deste livro são tão improváveis que dói. E há muitas questões práticas que são ignoradas, tais como não se poder apanhar um avião para outro país sem passaporte. Fez-me lembrar um flop do 007 em que há um acidente no metro de Londres em plena hora de ponta mas todas as carruagens estão vazias ;-p


   No Natal ofereci o "Amazing Fantastic Incredible: A Marvelous Memoir" ao Homer. Basicamente, é um livro ilustrado que retrata a vida do Stan Lee, o homem por detrás de personagens como o Homem-Aranha, Hulk, Thor, e os X-Men, entre outros. Embora goste mais do Astérix, esta manhã roubei este livro da mesa de cabeceira do maridão e estou a adorar ler os quadadrinhos :-)

 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Let's Dance!

   A nossa primeira experiência com as danças latinas, em especial a salsa, começou ainda na Holanda. Tínhamos curiosidade e achámos que seria até uma maneira divertida de conhecer pessoas novas, uma vez que estávamos no país há pouco tempo, e por isso inscrevemo-nos numa escola em Haia. Lembro-me que foi bom ver o quão rápido é o progresso de aprendizagem mas o aspecto social foi muito constrangedor. As aulas eram naturalmente em holandês, o professor era muito simpático e traduzia até algumas coisas para nós, mas o pior foi a troca de pares natural que se fazem nestas aulas. Os holandeses não primam pelo ritmo, coordenação (sem ser em cima da bicicleta!) ou desenvoltura. Para além disso são, na minha opinião, um povo "socially awkward"! Ora dançar com um estranho que não é capaz de sorrir, não diz uma palavra simpática, e ainda por cima não leva jeito nenhum para a coisa não é nada agradável! Por isso não passámos do primeiro nível.
   Vários anos depois, em Brisbane, encontrámos uma escola que nos pareceu uma boa alternativa pois ensinava vários estilos de danças latinas ao mesmo tempo. O conceito é, de facto, interessante mas os resultados demoram mais tempo a revelarem-se e para quem é principiante é muito fácil começar a confundir os diversos passos. Os professores mudavam de aula para aula e não sentimos sequer, por isso, consistência. Aqui a troca de pares tornou-se também constrangedora pela presença de alguns membros do sexo masculino que não tinham as melhores intenções, digamos assim... Ora eu estava ali para aprender, para me divertir e não para ser assediada! Quando um parceiro de dança não pára de olhar alarvemente para os teus seios, ou o chamas à atenção (o que fará com que o teu marido, presente na sala, se passe e lhe pregue um murro) ou optas por deixar de dançar com tal criatura. Para o fazer, e pelo bom funcionamento social da aula, tens de deixar de dançar com qualquer outro rapaz/homem o que por si só é um comportamento desconfortável. Assim, decidimos mais uma vez que aquela não era a escola para nós.

   Mas o bichinho continuava lá e chegados a Sydney pesquisei novas escolas e lá convenci o Homer a voltarmos à salsa. Ele não tinha muita vontade mas por mim aceitou tentar de novo. E em boa hora o fizémos! O professor, que é um dos directores da própria escola, é fantástico, enquanto professor, enquanto pessoa, enquanto bailarino. As aulas são super divertidas mas acima de tudo explicativas. Ele explica cada passo em pormenor mostrando-nos com exemplos porque se deve fazer assim e não assado. A paixão dele é contagiante :-)
   Ainda durante o primeiro nível a escola celebrou um aniversário (15 anos,  julgo) e houve a gala anual onde há actuações dos mais diversos níveis e uma festa muita animada pela noite dentro. Curiosos,  fomos! Ao ver os alunos dos níveis intermédios, nos variados estilos, ficámos inspirados e com vontade de continuar a aprender. Claro que os alunos dos níveis avançados ou os profissionais elevam a fasquia de tal modo que nem nos meus sonhos lá penso chegar ;-p
   Ao falarmos com o professor na semana seguinte ele desafiou-nos para uma actuação de principiantes no Sydney Latin Festival. Qual não é o meu espanto quando o próprio Homer diz logo que sim! Eu ainda questionei: tens a certeza?! Mas ele estava convicto que ia ser muito bom para nós em todos os sentidos.
   As aulas de coreografia foram efectivamente excelentes para consolidar os nossos conhecimentos e posso dizer que devido a tanta repetição e aperfeiçoamento sou "a rainha do one and a half turn", lol O bom ambiente que se criou com a equipa foi também muito especial pois queríamos todos dar o nosso melhor, estávamos todos motivados e a interajuda foi constante. Os treinos foram-se sucedendo, comprámos os disfarces (a coreografia tinha um tema militar) e os dias do festival chegaram sem piedade. O ensaio geral em palco correu maravilhosamente bem e aí tive um daqueles momentos de "ou vai ou racha". Sei que pode parecer ridículo mas só aí me apercebi da dimensão da aventura em que nos tínhamos metido... A actuação no dia seguinte correu muito bem mas os nervos eram muitos... Ao ver o vídeo reconheço alguns pequenos erros (o meu lado perfeccionista!) mas fico orgulhosa não só do nosso desempenho mas principalmente da nossa coragem...
   Sei que a idade, de que às vezes me queixo, me deu a confiança para subir ao palco num fato justo sem pensar nos quilos que tenho a mais, ou nos "pneus" ou "banhas"  visíveis, e mostrar os meus parcos conhecimentos de salsa perante profissionais e outros amadores.
   Diverti-me imenso no balneário com as outras meninas que me ajudaram a maquilhar pois é uma habilidade que não possuo (pela primeira vez na vida usei pestanas falsas!), e apesar dos nervos subi ao palco confiante de que estava preparada e com um sorriso nos lábios. Vibrei com os aplausos que confirmaram a toda a equipa que o nosso  esforço durante as aulas e ensaios tinha valido a pena e tinha dado frutos. Emocionei-me por detrás da cortina e não contive as lágrimas de felicidade que ameaçaram arruinar a maquilhagem!


   O resto do festival foi passado em workshops,  a assistir a muitas outras actuações de alunos e profissionais nacionais e internacionais, e a dançar muito nas festas.

   Foi uma experiência incrível por tudo o que me proporcionou, muito para além da dança em si! Se aos 38 (e meio, lol) conseguimos aprender a dançar ao ponto de subirmos a um palco e não passarmos vergonha então pouco será aquilo que não podemos fazer, se quisermos e fizermos por isso! E se eu consigo,  vocês também!