Já repararam que quando conhecemos alguém uma das perguntas mais frequentes é: "o que é que fazes?". Como se o que "fazemos" nos definisse de alguma forma. O título ou a profissão servem para que os outros nos coloquem nas suas prateleiras e compartimentos estanques.
Nunca ninguém nos pergunta o que somos! Não será essa pergunta muito mais interessante. Não será essa resposta muito mais sentida e verdadeira.
Isso implicaria um grau de investimento que poucos estão dispostos ou prontos a assumir. Conhecer alguém para lá duma profissão, de um estatuto, de uma postura social exige uma certa abertura que cada vez mais não temos disponível. Vivemos na era do fazer, do concretizar, da gestão por objectivos. Universidade, carreira, casamento, filhos, tudo na tentativa de provar que somos capazes, que somos vencedores na sociedade competitiva que nos rodeia.
Se sou sensível, solidária, carinhosa, atenta, disponível, ou até teimosa, orgulhosa, pragmática, irascível... pouco importa. Conquanto que faça algo que pareça bem... algo que seja facilmente classificável...
Há quem já não saiba ser.
Há quem já não seja capaz de não fazer.
Há quem já não consiga estar a sós consigo próprio e ficar apenas, sem pressas, sem agitação.
Luto contra a maré, cruzo os braços para não fazer e sofro por ainda ser...
Foto: Istambul, Março de 2008
Tem graça que nunca faço essa pergunta. Aliás nunca faço perguntas pessoais. Como não gosto que mas façam....Se a pessoa quer dizer diz se não consigo andar uma eternidade sem saber o que a pessoa faz. Não me interessa. O que me interessa é observar a pessoa e saber o que ela tem lá dentro. Apenas isso. A vida particular dela não me diz nada, nada do que ela é. Mas tudo o que dizes é verdade. Dá-se importância ao que se tem não ao que se é. Como lutei toda a vida contra isto, esta é uma das minhas batalhas antigas, não me interessa o que alguém tem. Isto, o facto de saberem que são qualificados pelo que tem, leva muitos a sentirem-se angustiados por não terem o que os outros têm. Tanta gente que se tenta liga a gente que considera importante para o ser, não é? Amarmo-nos como somos é muito importante para conseguirmos estar bem, sós connosco. Beijinhos
ResponderEliminarInfelizmente, a maior parte das pessoas só consegue viver numa superficialidade que a mim, de alguma forma, me angustia...
ResponderEliminarCeres já somos duas. Beijinhos
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