quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Let's Dance!

   A nossa primeira experiência com as danças latinas, em especial a salsa, começou ainda na Holanda. Tínhamos curiosidade e achámos que seria até uma maneira divertida de conhecer pessoas novas, uma vez que estávamos no país há pouco tempo, e por isso inscrevemo-nos numa escola em Haia. Lembro-me que foi bom ver o quão rápido é o progresso de aprendizagem mas o aspecto social foi muito constrangedor. As aulas eram naturalmente em holandês, o professor era muito simpático e traduzia até algumas coisas para nós, mas o pior foi a troca de pares natural que se fazem nestas aulas. Os holandeses não primam pelo ritmo, coordenação (sem ser em cima da bicicleta!) ou desenvoltura. Para além disso são, na minha opinião, um povo "socially awkward"! Ora dançar com um estranho que não é capaz de sorrir, não diz uma palavra simpática, e ainda por cima não leva jeito nenhum para a coisa não é nada agradável! Por isso não passámos do primeiro nível.
   Vários anos depois, em Brisbane, encontrámos uma escola que nos pareceu uma boa alternativa pois ensinava vários estilos de danças latinas ao mesmo tempo. O conceito é, de facto, interessante mas os resultados demoram mais tempo a revelarem-se e para quem é principiante é muito fácil começar a confundir os diversos passos. Os professores mudavam de aula para aula e não sentimos sequer, por isso, consistência. Aqui a troca de pares tornou-se também constrangedora pela presença de alguns membros do sexo masculino que não tinham as melhores intenções, digamos assim... Ora eu estava ali para aprender, para me divertir e não para ser assediada! Quando um parceiro de dança não pára de olhar alarvemente para os teus seios, ou o chamas à atenção (o que fará com que o teu marido, presente na sala, se passe e lhe pregue um murro) ou optas por deixar de dançar com tal criatura. Para o fazer, e pelo bom funcionamento social da aula, tens de deixar de dançar com qualquer outro rapaz/homem o que por si só é um comportamento desconfortável. Assim, decidimos mais uma vez que aquela não era a escola para nós.

   Mas o bichinho continuava lá e chegados a Sydney pesquisei novas escolas e lá convenci o Homer a voltarmos à salsa. Ele não tinha muita vontade mas por mim aceitou tentar de novo. E em boa hora o fizémos! O professor, que é um dos directores da própria escola, é fantástico, enquanto professor, enquanto pessoa, enquanto bailarino. As aulas são super divertidas mas acima de tudo explicativas. Ele explica cada passo em pormenor mostrando-nos com exemplos porque se deve fazer assim e não assado. A paixão dele é contagiante :-)
   Ainda durante o primeiro nível a escola celebrou um aniversário (15 anos,  julgo) e houve a gala anual onde há actuações dos mais diversos níveis e uma festa muita animada pela noite dentro. Curiosos,  fomos! Ao ver os alunos dos níveis intermédios, nos variados estilos, ficámos inspirados e com vontade de continuar a aprender. Claro que os alunos dos níveis avançados ou os profissionais elevam a fasquia de tal modo que nem nos meus sonhos lá penso chegar ;-p
   Ao falarmos com o professor na semana seguinte ele desafiou-nos para uma actuação de principiantes no Sydney Latin Festival. Qual não é o meu espanto quando o próprio Homer diz logo que sim! Eu ainda questionei: tens a certeza?! Mas ele estava convicto que ia ser muito bom para nós em todos os sentidos.
   As aulas de coreografia foram efectivamente excelentes para consolidar os nossos conhecimentos e posso dizer que devido a tanta repetição e aperfeiçoamento sou "a rainha do one and a half turn", lol O bom ambiente que se criou com a equipa foi também muito especial pois queríamos todos dar o nosso melhor, estávamos todos motivados e a interajuda foi constante. Os treinos foram-se sucedendo, comprámos os disfarces (a coreografia tinha um tema militar) e os dias do festival chegaram sem piedade. O ensaio geral em palco correu maravilhosamente bem e aí tive um daqueles momentos de "ou vai ou racha". Sei que pode parecer ridículo mas só aí me apercebi da dimensão da aventura em que nos tínhamos metido... A actuação no dia seguinte correu muito bem mas os nervos eram muitos... Ao ver o vídeo reconheço alguns pequenos erros (o meu lado perfeccionista!) mas fico orgulhosa não só do nosso desempenho mas principalmente da nossa coragem...
   Sei que a idade, de que às vezes me queixo, me deu a confiança para subir ao palco num fato justo sem pensar nos quilos que tenho a mais, ou nos "pneus" ou "banhas"  visíveis, e mostrar os meus parcos conhecimentos de salsa perante profissionais e outros amadores.
   Diverti-me imenso no balneário com as outras meninas que me ajudaram a maquilhar pois é uma habilidade que não possuo (pela primeira vez na vida usei pestanas falsas!), e apesar dos nervos subi ao palco confiante de que estava preparada e com um sorriso nos lábios. Vibrei com os aplausos que confirmaram a toda a equipa que o nosso  esforço durante as aulas e ensaios tinha valido a pena e tinha dado frutos. Emocionei-me por detrás da cortina e não contive as lágrimas de felicidade que ameaçaram arruinar a maquilhagem!


   O resto do festival foi passado em workshops,  a assistir a muitas outras actuações de alunos e profissionais nacionais e internacionais, e a dançar muito nas festas.

   Foi uma experiência incrível por tudo o que me proporcionou, muito para além da dança em si! Se aos 38 (e meio, lol) conseguimos aprender a dançar ao ponto de subirmos a um palco e não passarmos vergonha então pouco será aquilo que não podemos fazer, se quisermos e fizermos por isso! E se eu consigo,  vocês também!

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