Há muito que queríamos fazer o "Caminho". Não por motivos religiosos mas antes pela descoberta, pelo desafio, pelo convívio. Por várias vezes os planos foram adiados mas deste ano não podia passar.
Lá rumámos a Valença, para iniciar a nossa caminhada até Santiago :)
(Como os planos datam alguns anos, também o guia que tínhamos já não era o mais actual. Descobrimos mais tarde que entre Ponte de Lima e Valença já há um albergue a meio caminho. O motivo porque decidimos partir de Valença foi considerarmos que 40 kms num só dia e ainda por mais num percurso difícil seria demasiado para o primeiro dia. Afinal agora o caminho está pensado para que esse percurso seja feito por duas etapas!)
O primeiro grande choque foi o perceber, enfim, o que são fazer 20 kms por dia com uma mochila de 7.5 Kgs às costas! É que nós armados em artistas não tínhamos treinado com a mochila e parece que não mas a bicha cansa ;p Nas primeiras horas só pensava mas onde é que eu estava com a cabeça quando tive esta ideia?! Ao fim de algum tempo, porém, habituei-me ao peso e ao fim de dois dias já parece que nem pesava assim tanto.
O segundo grande choque foi perceber que uma parte significativa do caminho é feita na berma das nacionais. Ora a entrada e saída das localidades onde vamos pernoitar é quase sempre feita ao longo da nacional, na berma da estrada, onde passam imensos camiões e não há uma sombra que nos valha. Nem paragens! Ora para quem, como nós, ia numa de passeio, é um tipo de percurso que cansa, desmotiva e só nos faz querer chegar o mais depressa possível.
Nos percursos por mata, bosque e por pequenas aldeias fomos curtindo as paisagens e o pessoal local. Não havia tantos cafés ou pastelarias como gostaríamos pelo caminho mas isso é porque somos doidos por café e uns comilões de primeira, lol
O caminho está extremamente bem assinalado e não é preciso mapas, nem gps. Basta seguir as setas. Pelo caminho conhecemos imensa gente, muitos encontrávamos todos os dias nos albergue e pelo caminho, outros não voltámos a ver. A grande maioria eram alemães, mas também encontrarmos holandeses, espanhóis, portugueses, franceses, italianos e até malta do leste. Pessoal jovem, em forma, e muitos velhotes com uma garra e uma determinação impressionantes.
As dormidas nos albergues foram difíceis. Creio que depende do espírito aventureiro de cada um mas pessoalmente é me difícil abdicar da minha privacidade e de certas comodidades. Dormimos em camaratas e havia sempre malta a ressonar! Mas o pior era uma casalinho que se deitava sempre perto das janelas e as mantinham fechadas durante a noite (a miúda tinha frio!) e faziam com que o resto da malta passasse a noite cheia de calor. Isto já sem falar nos holandeses, que não têm qualquer respeito pelos outros, e que acendiam as luzes às 4 da manhã, acordando assim toda a gente!
As dores nos pés e as dores musculares suportaram-se. Alguns dias melhores que outros mas a malta aguentou-se bem. A companhia não podia ter sido melhor! Não é com qualquer pessoa que se passam seis dias a caminhar, cansados, com dores nos pés e não nos chateamos por andarmos de pavio curto. E não só nunca nos chateamos como passámos o tempo todo a rir, a gozar e a fazer macacadas! E facilmente chegámos sempre a acordo sobre o que comprar no supermercado, onde jantar, a que horas sair do albergue, quando parar, etc.
Em termos pessoais, foi de facto uma viagem com um valor sentimental grande. A caminhada é uma grande reflexão, um caminho percorrido também interiormente, um tempo de busca e um momento propício para estarmos a sós com os nossos pensamentos. Por isso, com tudo de bom e de mau, posso com certeza dizer que voltaria a fazer o "caminho"!
Chegar a Santiago é uma vitória! É a chegada ansiada a uma cidade cheia de vida e de cor, a concretização de um objectivo, um final que não mais é que um recomeço! Já conhecia a cidade, já me tinha marcado profundamente e voltou a mexer comigo. Como diz o outro: "Já fui muito feliz em Santiago de Compostela!"
E agora algumas fotos:
Querida Ceres, tenho vários amigos aqui do Norte que já fizeram a peregrinação. Uns pelas rotas mais conhecidas, outros mais experientes, por caminhos alternativos. Mas com todos o objectivo foi conseguido: uma maior paz interior!
ResponderEliminarParabéns pela tua viagem :)
Querida Manuela,
ResponderEliminarParece-me que agora já só faltas tu ;p
(mas leva carro de apoio que a mochila às costas cansa, lol)
Beijinhos
Eu fiz 15 kilómetros num dia agora na Croácia e sem mochila e quase me dá uma pataleca, não sei se aguento 20 kms com 7,5 (QUASE uma Petzi, menos que um Kruk!) às costas! Ah valentes!!!
ResponderEliminarLOL
ResponderEliminarClaro que aguentavas!
Eh lá, o Kruk está pesadote ;p
Beijos
Tens que ver o filme "The Way" :)
ResponderEliminarInvejo a tua coragem. Eu gostava muito de fazer, mas acho que ia demorar uns 6 meses e não tenho vida para isso (pelo menos agora)
Não conheço o filme mas fiquei curiosa com a sugestão ;-)
ResponderEliminarDaqui a nada os miúdos estão crescidos e ainda fazem o caminho a quatro!!
Beijinhos
Tinha-me passado ao lado este post do teu blog. Desde sempre que tenho no imaginário fazer esta caminhada. Um dia...
ResponderEliminarPensei que seria possível fazer sempre por caminhos interiores, mas realmente a aproximação às localidades é naturalmente feita por estrada...
Adoro a ideia de fazer caminhadas/expedições e coisas do género...aliás para Setembro tenho uma aventura deste género mas ligeiramente diferente...(relato depois de a concretizar)
Eugénio,
ResponderEliminarVais gostar, de certeza!
Agora fiquei cheia de curiosidade da tua futura aventura ;p
Olá
ResponderEliminarAcho que nãoia aguentar tantos quilometros.
Já fui a Fatima a pé e quase morri e olhe que não são muitos quilomentros da minha casa.
Mas sim todas as pessoas que vão a santiago falam em paz de espirito, serenidade...
Quem sabe um dia não ganho coragem e me ponho a caminho?
Boa semana
Olá Maria,
ResponderEliminarCada um vai ao seu ritmo. Vi lá alguns que mais pareciam estar a fazer uma corrida, nós apelidamo-los de "os campeões" ;p
Mas o caminho não é uma competição, é uma descoberta. E como diz o ditado: Devagar se vai ao longe!!
Beijinhos
Olá...é um caminho que espero um dia fazer. Já o pensei fazer mas sozinha não tenho coragem e falta-me pessoal que alinhe nesta aventura. Quem sabe um dia não realize este desejo.
ResponderEliminarOlá Butterfly :)
ResponderEliminarSabes que há muita gente que se mete a caminho sozinha e depois vai conhecendo malta pelo caminho. Por isso, se é algo que gostavas de fazer, força! Mete-te a caminho ;p
Quem sabe um dia não consiga ter essa coragem. Em dezembro vou em principio realizar um outro sonho India. Talvez Santiago fique para ano que vem.
ResponderEliminarEu também passei anos a pensar em fazer o caminho e finalmente aconteceu. Por isso, quando menos esperares...
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