sexta-feira, 3 de novembro de 2017

BabyMoon: Whitsundays

   Antes de entrar no terceiro trimestre, decidimos fazer umas mini-férias. As últimas a dois dos próximos tempos ;-)
   Não tínhamos muitos dias de férias pois estávamos a guardá-los para o nascimento da bebé por isso foi só mesmo uma escapadela para namorar e descansar. Decidimos então ir até às Whitsundays, que há muito estavam na nossa lista de locais a visitar. São um conjunto de ilhas, na Queensland, situadas na famosa Grande Barreira de Coral
    Ficámos em Airlie Beach que é talvez a ilha mais desenvolvida. A ilha tem bastantes restaurantes, cafés, bares e tudo o mais que alguém possa precisar enquanto de férias: supermercado, farmácia, etc. Nesta ilha não há praia propriamente dita por isso há uma praia artificial muito agradável. É fácil, contudo, chegar a outras ilhas de barco, sendo que algumas ilhas são apenas um grande resort como é o caso da Daydream Island.




   Claro que uma visita às Withsundays seria incompleta sem uma visita à Grande Barreira de Coral ;-) Estando eu com uma barriga bem grande e algum desconforto (26 semanas de gravidez) optámos por um passeio de avião (avioneta, vá) em vez de snorkeling. Recomendo vivamente!!! Sobrevoar a zona é de cortar a respiração! As fotografias (tiradas com o telemóvel) não fazem justiça à beleza da natureza.

Whitehaven Beach 

Whitehaven Beach

Whitehaven Beach

   O avião voa mesmo baixinho e parece que vamos entrar no coral. A água é tão límpida que podemos ver pequenos pormenores apesar da distância. 




Heart Reef

   Fomos também de barco à Whitehaven Beach que está considerada uma das melhores praias do mundo pela sua água cristalina e areia branca. A ilha é apenas um parque natural por isso o barco deixa-nos na praia e vem buscar-nos umas horas mais tarde. Podemos passear pelo parque natural onde há dois miradouros e aproveitar a praia que é de facto paradisíaca. Não há nada em redor por isso há que ir preparado com água e comida. Da tripulação do barco fica sempre alguém em terra com um kit de primeiros socorros pois estamos por nossa conta até o barco regressar. 




   Como tinha passado a maior parte da gravidez de Inverno ainda não tinha entrado dentro de água (mar ou piscina). A sensação é estranha e a primeira vez que entrei na piscina achei até assustador. A água ajuda a que nos sintamos mais leves mas ao mesmo tempo parece que a barriga fica a flutuar sozinha e deixamos de sentir o bebé, ou melhor o peso e a pressão dele. É de facto muito bom, e por isso os médicos recomendam natação para grávidas, mas não deixa de ser uma sensação estranha para quem já se habituou à "pança". 

   Estas mini-férias foram óptimas! Pudemos descansar, fazer praia, namorar e fazer planos para o futuro próximo a três. Voltar à realidade custou... Até porque o terceiro trimestre estava à porta e com ele vêm sempre os tempos mais dificéis para uma grávida. 

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O segundo trimestre

 
   Depois de 3 semanas de repouso absoluto e uma viagem até ao outro lado do mundo fomos fazer nova ecografia. Não tinha perdido mais sangue mas ainda era muito cedo para sentir o bebé pelo que o receio de que algo pudesse estar errado era grande. Respirámos por fim de alívio quando nos disseram que estava tudo óptimo e que não havia sequer sinais de onde tinha ocorrido a ruptura da placenta. A imagem que vimos então no ecrã já se parecia mais com um bebé, embora ainda bem cabeçudo ;-) e ouvimos de novo os batimentos cardíacos.
   Às 14 semanas acordei e senti algo muito subtil na zona abdominal. Sinceramente, não percebi logo se seria ou não o bebé a mexer e quando contei ao Homer lembro-me de lhe ter dito que poderiam ser gases, lol Nessa noite, senti a mesma sensação de novo e assim passei a sentir a minha bebé a mexer todas as manhãs ao acordar e todas as noites ao adormecer.
 
   Às 18 semanas fomos fazer a ecografia morfológica que é acompanhada de uma análise de sangue. Os resultados de ambos exames e a idade da mãe são depois colocados num programa de computador que prevê a probabilidade do bebé ter alguma das trissomias (13, 17 e 21). De todas as ecografias  que fiz esta foi a que mais gostei de ver pois vimos perfeitamente o formato do bebé que andava literalmente aos saltos no líquido amniótico. Parecia que saltitava num trampolim. As ecografias seguintes foram mais focadas no desenvolvimento dos órgãos internos sendo que a maior parte do tempo não sabíamos identificar o que estávamos a ver pois os médicos/técnicos estavam mais focados em medir veias, afluência de sangue, etc...
   Mas a bebé A. estava decidida a não nos dar muito tempo de paz e o despiste da trissomia 21 não era o desejável. O valor que queremos ver é mais de 300 e no meu caso o valor era 262. Embora a ecografia mostrasse que estava tudo bem, a análise de sangue não garantia o mesmo e foi-nos dada a escolha de fazer uma análise ao ADN da bebé para clarificar quaisquer dúvidas. Este exame não é comparticipado mas oferece 99.8% de certeza quanto ao seu resultado. Decidimos que queríamos ter a certeza e nesse mesmo dia fiz a análise.
   Embora as probabilidades de algo estar errado serem muito reduzidas tivemos de considerar o cenário "se". Caso o resultado fosse positivo poderíamos optar por terminar a gravidez mas como é que teria coragem de o fazer depois de ter visto a imagem do bebé no ecrã, a saltitar dentro do meu útero, e ter ouvido o seu coração. Já não era apenas um ponto do tamanho de uma semente de sésamo, era uma vida que nos tínhamos gerado. Nem quero imaginar o que será ter de tomar essa decisão de verdade...
   Passados uns dias recebemos uma chamada telefónica com os resultados e a confirmação de que estava tudo bem! Os pares certos de cromossomas como se quer :-) E soubemos também nesse momento que íamos ter uma menina o que foi uma surpresa pois estávamos todos convencidos de que seria um rapaz.
 
   A barriga já se começava a notar e começámos a espalhar a boa nova. Embora nunca tenha tido enjoos, durante umas semanas, no início do segundo trimestre, não suportava o cheiro da comida enquanto cozinhava, em especial qualquer tipo de refogado. E ao final do dia sentia-me um pouco mal-disposta sendo que o que me aliava era beber Ginger Ale e comer bolachas de gengibre e canela.
   Todos os livros e a informação que lia dizia que no segundo trimestre a energia voltava mas a verdade é que no meu caso eu esperei, esperei e a malandra nunca mais voltou! Andei sempre cansada e muitas eram as vezes em que não podia com uma gata pelo rabo. Infelizmente é apenas um sintoma muito comum na gravidez e não há muito que se possa fazer para o combater. As enfermeiras parteiras que me seguiam nessa altura apenas me diziam que entre todos os sintomas possíveis bem me podia considerar uma sortuda por só me sentir cansada 😉
   À medida que as semanas iam passando, contudo, outras sintomas se foram juntando ao cansaço: excesso de saliva que fazia com que ressonasse e me babasse durante a noite, dedos das mãos inchadas que levaram a que a aliança passasse a andar pendurada no fio (ao fim de 8 meses do parto ainda não serve!), cãibras nas pernas durante a noite que me faziam acordar aos gritos e o famoso "Baby Brain". Ora eu sempre tive uma memória de elefante, sempre fui muito organizada e perspicaz e de repente foi como se o meu cérebro entrasse na rotação errada e por muito que me esforçasse não o conseguia voltar a calibrar. Foi uma das coisas que mais mexeu comigo pois sentia-me mesmo lenta de pensamento, ah ah ah ah E o pior é que depois do bebé nascer há tendência a piorar (confirmo!). Lembro-me por exemplo de uma vez em que saí do autocarro perto do trabalho e seguindo as outras pessoas comecei a caminhar na direcção oposta. Cruzei-me com um colega, disse-lhe olá sem sequer notar que íamos em direcções opostas e só me dei conta do erro quando ele me diz que o escritório era no sentido oposto! Outra vez, abri uma embalagem de iogurte das grandes, coloquei uma taça ao lado e quando pego na colher começo a colocar o iogurte que me preparava para comer em cima da bancada da cozinha directamente ao lado da tigela que tinha preparado o efeito! Isto já para não falar nas calinadas e disparates que fui dizendo e que felizmente já fui esquecendo 😉.
   Racionalmente sabia que estava a gerar um ser, sabia que todos os sintomas eram mais do que normais, mas a verdade é que emocionalmente foi-me difícil aceitar que não conseguia manter o mesmo ritmo, que estava frequentemente cansada, que não conseguia trabalhar com a mesma velocidade, que já não conseguia chegar ao final do dia sem ter de várias pausas para recarregar baterias. Penso que a pressão, se a havia, era eu que a colocava a mim própria por sentir que o meu corpo e mente não estavam a corresponder às minhas expectativas... e isso foi sem dúvida o mais difícil e talvez o ponto de viragem para sentir que nada mais seria igual...

sexta-feira, 12 de maio de 2017

O primeiro trimestre e o susto..


   Quando soube que estava grávida confirmámos com o médico que não havia perigo de voar e decidimos manter os nossos planos. Primeiro fomos até Melbourne, viagem que já estava planeada há alguns meses, seguido de 4 semanas em Portugal com uma paragem pelo Dubai. Felizmente, não sofri de enjoos pelo que as férias correram bem e com uma alegria especial.

   Chegados a Portugal partilhámos a boa nova com as nossos pais que ficaram em êxtase! Ao fim de 13 anos de vida em comum eles já tinham perdido a esperança de lhes darmos netos por isso a alegria e a surpresa foram ainda maiores. Partilhámos também a notícia com outros familiares e foi excelente poder sentir os abraços apertados de quem nos quer bem.
   Andava muito bem disposta mas tive contudo muuuuuiiiiito sono... Mas é um sono diferente do que alguma vez tinha sentido até aí. Não é derivado de cansaço e nem sequer sentimos que estamos ensonados, só que assim que nos sentamos numa posição confortável adormecemos profundamente. Lembro-me de uma ocasião em que tivemos de ir a casa buscar algo e o plano era sair logo de saída mas enquanto o Homer aproveitou para ir à casa de banho eu sentei-me em cima da cama e só me lembro de acordar duas horas depois, ah ah ah ah ah ah ah ah

   Ainda tínhamos mais uma semana de férias em Lisboa quando após um almoço de Domingo com os pais senti um corrimento semelhante ao período. Fui de imediato à casa de banho e quase ia tendo um colapso quando vi imenso sangue. Esperei uns minutos, voltei à casa de banho e continuava a sangrar. Com a maior calma que consegui encontrar comuniquei ao Homer que tínhamos de ir ao hospital enquanto tentei acalmar os nossos pais com o facto de não sentir qualquer dor.
   Com receio de ficar imenso tempo à espera nas urgências de um hospital público dirigimo-nos à CUF Descobertas que sendo um hospital privado haveria de ser mais rápido. E o atendimento foi de facto rápido mas.........
   Fomos encaminhados para as urgências de obstetrícia e apanhámos um médico da velha guarda que claramente já deveria estar na reforma. Depois de algumas perguntas relevantes segui-se o exame físico e aí começou o nosso pesadelo. O médico em momento algum teve em linha de conta o meu conforto, ou o meu receio da situação pelo qual eu estava a passar, e ao tentar fazer o exame interno simplesmente tentou inserir a sonda ecográfica como quem enfia a mangueira da gasolina no carro para encher o depósito. Claro que a reacção involuntária de qualquer músculo perante tal cenário é contrair. Quanto mais ele tentava realizar o exame com tal brusquidão mais eu contraía os músculos, incapaz de relaxar, dificultando/impossibilitando assim o exame. Enquanto isto se passava ele ia dizendo coisas como: "oh filha, abra as pernas", e outras pérolas assim. Chegou a afirmar que eu tinha uma malformação na vagina e a questionar como é que tal nunca me tinha sido diagnosticado!
   Eventualmente chamou uma colega para o ajudar. Esta perante a descrição dele acerca da situação perguntou-me se eu era virgem!!!, ao que eu lhe respondi simplesmente: "estou grávida!!!".... Ela lá me conseguiu descontrair um pouco e com jeitinho conseguiu realizar o exame sem mais dificuldades. E ele não se poupou a novos comentários infelizes: "pois, só querem é mimos... como uma mulher já deixam." etc...
   Enquanto os dois observavam o monitor da ecografia o primeiro médico começa a falar com a colega, ignorando completamente a nossa presença como se fossemos surdos ou parvos, e diz coisas como: "pois, isto é mesmo uma interrupção", "já não está cá nada", etc. Ao ouvir a palavra interrupção, pronunciada mais do que uma vez, não aguentei mais e desatei a chorar olhando para o Homer e dizendo que tínhamos perdido o bebé.... O pobre, que até aí se tinha tentado manter forte pelos dois, começou-se a sentir prestes a desmaiar e teve de se deitar na outra marquesa que havia na sala.
   Estávamos os dois a olhar um para o outro, tristes e em estado de choque, quando os médicos decidem também fazer uma ecografia pélvica e oiço o fulano dizer, surpreso: "ah, mas ainda tem batimentos cardíacos! E tem sinalética!". O Homer voou da marquesa até ao pé de mim e incrédulos olhámos para o monitor onde vimos a imagem e ouvimos o coraçãozinho do nosso bebé a bater, 148 batidas por minuto :-)
   A felicidade que nos invadiu foi imensa mas... como é que um médico com uma longa carreira (presumo, dada à idade do senhor) pode ter tamanha falta de tacto, sensibilidade e respeito pelos seus pacientes???!!! Presumo que já tenha visto muitos abortos espontâneos pois as estatísticas mostram que uma em cada 4 gravidezes não progride para além do primeiro trimestre mas não se pode perder a noção de que para os pais a dor é imensa e é muito mais do que uma imagem no monitor de uma máquina, é um bebé que foi desejado e é já amado (embora seja ainda feto...).
   Vim para casa com instruções de repouso. Voltaria no dia seguinte para fazer uma nova ecografia mais detalhada. Saímos do hospital em estado de choque, preocupados com o risco de perder o bebé, aliviados por ter ouvido o coração a bater e a tentar processar os eventos e o tratamento a que fomos submetidos. Nessa noite mal consegui dormir e cada vez que me recordava daquela sala de hospital sentia calafrios...
   Na manhã seguinte dirigimos de novo ao hospital e quando lá chegámos a recepcionista já estava à espera da nossa visita. O médico que me tinha visto no dia anterior tinha ligado para o serviço a avisar que iríamos fazer uma ecografia de cariz urgente e fomos logo atendidos. Nesse aspecto o serviço foi, de facto, excelente.
   Desta vez fomos também recebidos por um médico experiente, de cabelos brancos e idade avançada, mas que usa a sua experiência como uma mais-valia no tratamento dos seus pacientes e não como autoridade insensível. O médico foi um amor de pessoa, explicou-nos tudo com clareza, alertou-nos para os perigos e aquilo que ele preveu em relação ao parto veio efectivamente a concretizar-se.
   Diagnosticou-me uma ruptura de 2,7 cms da placenta. Isto é algo que sara apenas por si só com repouso, nada mais se pode fazer. E num cenário destes a probabilidade de um aborto espontâneo aumenta.
   Ora, nós tínhamos viagem marcada de regresso a Sydney para a semana seguinte. O médico assegurou-nos que viajar de avião não era um problema mas que não poderia levantar qualquer peso ou andar muito. Assim sendo, ligámos para a companhia aérea e pedimos assistência pelo que vim de cadeira de rodas de Lisboa a Sydney. E de coração apertado, claro está.

   Felizmente, a bebé A. foi uma valente, cheia de vontade de nascer!

domingo, 16 de abril de 2017

A sair da bolha...

 
   Fez no passado Domingo 4 meses que nasceu a bebé A. 4 meses que passaram a correr mas 4 meses vividos muito intensamente.
   Entre fraldas, sestas e biberões sinto-me agora a emergir da bolha do mundo dos bebés e a necessitar de dedicar mais do meu tempo e atenção a outras coisas também minhas. Desde que ela nasceu que temos sido uns pais muito descontraídos e temos vivido o nosso dia-a-dia de modo bastante semelhante, com as devidas adaptações, claro está. Saímos para tomar café, vamos jantar fora ou comer um gelado depois do jantar à gelataria do bairro, vamos visitar amigos, etc. A bebé A. adora passear e felizmente (até agora) tem-se sempre portado lindamente. Levamo-la connosco para todo o lado e ela encaixou-se organicamente na nossa vida, sem grandes dificuldades ou sacrifícios.
   Mas o tempo não estica e a verdade é que nesta fase inicial muito é consumido apenas por ela. Não, isto não é, de todo, uma queixa e, é claro, que adoro cuidar dela mas é um facto que o meus horários se regem pelas horas em que ela tem de comer, de mudar a fralda, de dormir, etc. E requerem também alguma flexibilidade pois os seus horários mudam muito frequentemente. Isto leva a que, por vezes, ao final do dia, sinta que não consegui fazer tudo o que gostaria, ou que não tive tempo para fazer aquela pequena coisa que me teria dado prazer.
  Ao fim destes 4 meses começo a sentir agora que estou a conseguir sair desta bolha. Estou a conseguir dedicar-me um pouco mais a mim e noto como tinha saudades minhas. Claro que uma parte do meu cérebro ainda está ligada somente à minha pequerrucha (parte essa que eu adoro pois sou feliz ao pensar nela, ao dar-lhe miminhos e vê-la sorrir para mim) mas os meus pensamentos já se  debruçam sobre mim e sobre as minhas coisas, sobre o Homer e a nossa relação para além da filha, já consigo desfrutar de um livro que não seja sobre bebés, ver as minhas séries favoritas, ir fazer uma massagem ou a uma aula de yoga.
   Para tudo isto tem contribuído muito facto de a bebé A. ser muito calma e bem-disposta! Dorme lindamente, come e cresce comme il faut, e é super fofa! É comum na rua ser interpelada por estranhos que a acham uma bebé muito bonita e simpática e todos ficam sempre surpresos por ela ser tão serena e tranquila. Eu fico toda inchada com estes comentários, claro!, mas o facto é que sou de facto uma grande sortuda!!!!

   Tenho em rascunho já alguns relatos sobre a gravidez e o parto pois quero deixa-los registados enquanto a memória ainda está fresca mas a tal bolha não me tem permitido vir aqui com o gosto e dedicação que este meu cantinho merece. Em breve... assim espero...