quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O segundo trimestre

 
   Depois de 3 semanas de repouso absoluto e uma viagem até ao outro lado do mundo fomos fazer nova ecografia. Não tinha perdido mais sangue mas ainda era muito cedo para sentir o bebé pelo que o receio de que algo pudesse estar errado era grande. Respirámos por fim de alívio quando nos disseram que estava tudo óptimo e que não havia sequer sinais de onde tinha ocorrido a ruptura da placenta. A imagem que vimos então no ecrã já se parecia mais com um bebé, embora ainda bem cabeçudo ;-) e ouvimos de novo os batimentos cardíacos.
   Às 14 semanas acordei e senti algo muito subtil na zona abdominal. Sinceramente, não percebi logo se seria ou não o bebé a mexer e quando contei ao Homer lembro-me de lhe ter dito que poderiam ser gases, lol Nessa noite, senti a mesma sensação de novo e assim passei a sentir a minha bebé a mexer todas as manhãs ao acordar e todas as noites ao adormecer.
 
   Às 18 semanas fomos fazer a ecografia morfológica que é acompanhada de uma análise de sangue. Os resultados de ambos exames e a idade da mãe são depois colocados num programa de computador que prevê a probabilidade do bebé ter alguma das trissomias (13, 17 e 21). De todas as ecografias  que fiz esta foi a que mais gostei de ver pois vimos perfeitamente o formato do bebé que andava literalmente aos saltos no líquido amniótico. Parecia que saltitava num trampolim. As ecografias seguintes foram mais focadas no desenvolvimento dos órgãos internos sendo que a maior parte do tempo não sabíamos identificar o que estávamos a ver pois os médicos/técnicos estavam mais focados em medir veias, afluência de sangue, etc...
   Mas a bebé A. estava decidida a não nos dar muito tempo de paz e o despiste da trissomia 21 não era o desejável. O valor que queremos ver é mais de 300 e no meu caso o valor era 262. Embora a ecografia mostrasse que estava tudo bem, a análise de sangue não garantia o mesmo e foi-nos dada a escolha de fazer uma análise ao ADN da bebé para clarificar quaisquer dúvidas. Este exame não é comparticipado mas oferece 99.8% de certeza quanto ao seu resultado. Decidimos que queríamos ter a certeza e nesse mesmo dia fiz a análise.
   Embora as probabilidades de algo estar errado serem muito reduzidas tivemos de considerar o cenário "se". Caso o resultado fosse positivo poderíamos optar por terminar a gravidez mas como é que teria coragem de o fazer depois de ter visto a imagem do bebé no ecrã, a saltitar dentro do meu útero, e ter ouvido o seu coração. Já não era apenas um ponto do tamanho de uma semente de sésamo, era uma vida que nos tínhamos gerado. Nem quero imaginar o que será ter de tomar essa decisão de verdade...
   Passados uns dias recebemos uma chamada telefónica com os resultados e a confirmação de que estava tudo bem! Os pares certos de cromossomas como se quer :-) E soubemos também nesse momento que íamos ter uma menina o que foi uma surpresa pois estávamos todos convencidos de que seria um rapaz.
 
   A barriga já se começava a notar e começámos a espalhar a boa nova. Embora nunca tenha tido enjoos, durante umas semanas, no início do segundo trimestre, não suportava o cheiro da comida enquanto cozinhava, em especial qualquer tipo de refogado. E ao final do dia sentia-me um pouco mal-disposta sendo que o que me aliava era beber Ginger Ale e comer bolachas de gengibre e canela.
   Todos os livros e a informação que lia dizia que no segundo trimestre a energia voltava mas a verdade é que no meu caso eu esperei, esperei e a malandra nunca mais voltou! Andei sempre cansada e muitas eram as vezes em que não podia com uma gata pelo rabo. Infelizmente é apenas um sintoma muito comum na gravidez e não há muito que se possa fazer para o combater. As enfermeiras parteiras que me seguiam nessa altura apenas me diziam que entre todos os sintomas possíveis bem me podia considerar uma sortuda por só me sentir cansada 😉
   À medida que as semanas iam passando, contudo, outras sintomas se foram juntando ao cansaço: excesso de saliva que fazia com que ressonasse e me babasse durante a noite, dedos das mãos inchadas que levaram a que a aliança passasse a andar pendurada no fio (ao fim de 8 meses do parto ainda não serve!), cãibras nas pernas durante a noite que me faziam acordar aos gritos e o famoso "Baby Brain". Ora eu sempre tive uma memória de elefante, sempre fui muito organizada e perspicaz e de repente foi como se o meu cérebro entrasse na rotação errada e por muito que me esforçasse não o conseguia voltar a calibrar. Foi uma das coisas que mais mexeu comigo pois sentia-me mesmo lenta de pensamento, ah ah ah ah E o pior é que depois do bebé nascer há tendência a piorar (confirmo!). Lembro-me por exemplo de uma vez em que saí do autocarro perto do trabalho e seguindo as outras pessoas comecei a caminhar na direcção oposta. Cruzei-me com um colega, disse-lhe olá sem sequer notar que íamos em direcções opostas e só me dei conta do erro quando ele me diz que o escritório era no sentido oposto! Outra vez, abri uma embalagem de iogurte das grandes, coloquei uma taça ao lado e quando pego na colher começo a colocar o iogurte que me preparava para comer em cima da bancada da cozinha directamente ao lado da tigela que tinha preparado o efeito! Isto já para não falar nas calinadas e disparates que fui dizendo e que felizmente já fui esquecendo 😉.
   Racionalmente sabia que estava a gerar um ser, sabia que todos os sintomas eram mais do que normais, mas a verdade é que emocionalmente foi-me difícil aceitar que não conseguia manter o mesmo ritmo, que estava frequentemente cansada, que não conseguia trabalhar com a mesma velocidade, que já não conseguia chegar ao final do dia sem ter de várias pausas para recarregar baterias. Penso que a pressão, se a havia, era eu que a colocava a mim própria por sentir que o meu corpo e mente não estavam a corresponder às minhas expectativas... e isso foi sem dúvida o mais difícil e talvez o ponto de viragem para sentir que nada mais seria igual...

2 comentários:

  1. Não sabia que se podia fazer uma análise ao ADN do bebé para despistar o Síndrome de Down. Já aprendi algo de novo hoje, contigo. :-)

    Compreendo perfeitamente o que dizes no que toca ao impacto de ficarmos com o raciocínio lento. No meu caso, a memória e o raciocínio foram-se muito abaixo durante os dois anos iniciais de hipotiroidismo, pois estive sem receber tratamento durante aquele período (e sem saber o que tinha). A médica (holandesa) dizia que eu estava cansada por ter mudado de país recentemente, ter tido muito trabalho com a mudança, estarmos no Inverno, não conhecer ninguém aqui e ter começado a aprender uma língua nova e difícil. Nunca chegou a mandar fazer análises. Só mais tarde, já com outra médica, britânica, descobri o que tinha, pois os sintomas não iam embora e eu estava mesmo muito embaixo de forma (até sentia complexos com a situação...).
    Tudo a correr bem contigo.

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  2. É verdade, agora é possível fazer uma simples análise de sangue para saber se o bebé é portador de trissomia. Eu também não sabia até ter engravidado. Modernices, eh eh eh eh Boas, neste caso!

    Pois, eu pelo menos sabia que era uma sintoma normal da gravidez e que havia de passar/melhorar com o tempo! Sabes que quando vivi na Holanda também tive de tomar medicação para a tiróide? Agora os meus níveis estão normais e eu acredito que a falta de sol tem uma grande influência... As melhoras 😀

    Beijinhos

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