segunda-feira, 26 de agosto de 2013

The Bible



Depois de saber pelo facebook que o Diogo Morgado andou a fazer de Jesus e que tinha sido convidado para ir ao programa da Oprah (a loucura!, como se esse fosse o verdadeiro reconhecimento de talento!), fiquei com vontade de ver a mini-série que passou aqui na tv australiana.

Durante umas semanas dediquei as minhas terças à noite a ver retratadas as estórias que muitas vezes ouvi e/ou vi em filmes durante a Páscoa. Não me pareceu que a série fosse de todo revolucionária ou acrescentasse algo de novo, tal como fariam acreditar as críticas. Gostei da qualidade da fotografia e imagem, gostei que os actores não fossem as caras conhecidas de Hollywood e, sim, gostei do nosso Diogo no papel de Jesus. Fisicamente, foi muito bem escolhido pois precisa de muito pouco para se parecer à imagem que a igreja nos impingiu de Cristo (convenhamos que um homem daquela época e daquela zona do planeta Terra não poderia ser louro de olhos azuis!), a interpretação foi fiel ao estilo do argumento e a sua entoação em inglês perfeito surpreendeu-me pela positiva.

Ora eu, como a grande maioria dos portugueses, fui criada na cultura católica mas há muito que isso não me diz nada. Os meus pais não são presenças frequentes na missa, tendo a sua fé e vivendo a sua vida ao seu modo e de acordo com os seus valores. Quando andava na escola primária havia muitos meninos que andavam na catequese e eu pedi à minha mãe para ir. Ela, claro, que disse que sim e tratou de me inscrever. Apesar da minha tenra idade (9 aninhos) eu levei a experiência muito a sério. Estudava e lia tudo o que me ensinava e recomendavam, ia à missa todos os Domingos de manhã, sozinha! (pois os meus pais não costumam ir...) e lá fiz a primeira comunhão, com direito a festinha em casa e tudo!

Depois de algum tempo naquelas andanças, disse à minha mãe que não queria ir mais pois tudo o que tinha aprendido não fazia sentido e não estava de acordo com os comportamentos que via à minha volta. Novamente, a minha mãe deu-me livre escolha e disse que eu não teria de voltar. E não voltei até hoje...

Enquanto adulta, já me debrucei muitas vezes sobre o assunto e pessoalmente a religião não é para mim. Mesmo "estudando" outras religiões, em que na maior parte das vezes os princípios base acabam por ser semelhantes, não consigo sentir aquilo a que chamam de fé. Por vezes penso que talvez a minha vida até seja mais vazia por isso mas...

Sou contudo uma pessoa espiritual. Acredito que somos mais do que um corpo e que temos potencial para irmos mais além. Acredito que os seres humanos têm diferentes estados de evolução e acredito que homens de carne e osso, iguais a mim, podem atingir estádios de iluminação, o que não faz deles santos, nem profetas, nem "filhos de Deus". Tento guiar a minha vida pelo bem, pelo amor, pela gratidão, pela compaixão.

Respeito quem tem outras crenças e quem pratica uma religião, seja ela qual for. Vou à igreja como convidada em casamentos e baptizados ou para me despedir de alguém no seu velório. Sento-me nas filas de trás e embora saiba rezar opto pelo silêncio pois sinto que seria hipócrita da minha parte dizer as palavras da boca para fora, sem qualquer sentimento.

Quando alguém espirra digo "saúde" e não "santinho/a" mas saem-me intuitivamente expressões idiomáticas como "Valha-me Deus", "Por amor de Deus", apenas por hábito ;-)

A minha mãe, mulher sábia!, sempre me ensinou que não se discute política, futebol e religião! Segundo ela, cada um tem a sua opinião e susceptibilidades e é muito fácil as pessoas ficarem ofendidas e até zangadas aos expressarmos uma opinião diferente. Sempre me regi por esta máxima e até agora não me dei mal. Hoje apeteceu-me escrever sobre isto pois a série trouxe ao de cima estes pensamentos/sentimentos que são meus e valem apenas por isso mesmo.

Ressalva: não é minha intenção ofender ninguém nem nenhuma religião. Lamento se alguém se sentir de algum modo incomodado com alguma opinião aqui expressa e peço que carreguem na cruz vermelha no canto superior direito e voltem outro dia, se quiserem, quando por aqui se fale de comida, da vida de emigrante na Austrália, de livros, etc.

2 comentários:

  1. Ceres, gostei muito deste post!
    Identifiquei-me muito com algumas partes.
    No entanto, a minha "relação" com Deus é bem mais complicada que a tua...

    Há dias, o meu marido, que é ateu, falou-me neste documentário onde dizem que as pessoas que não têm religião ou fé em algo, têm tendência a sentir-se perdidas ou desorientadas...

    http://youtu.be/cKgUv3yiN9Q

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  2. Também penso nisso e até aceito que a fé possa de facto dar-nos um sentido mais profundo à vida. Contudo, até agora, nunca a senti verdadeiramente e isso não se pode forçar! Mas não digo que não, quem sabe um dia...

    Obrigada pela partilha, vou com certeza dedicar-me a ver o vídeo em breve :-)

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